Cada dia é um dia

E aí ela olhou para o céu e decidiu que seu dia ia ser bom, hoje ela prometeu que não ia deixar nada atrapalhar seu humor, e enquanto pensava sobre isso cantarolava qualquer música indo para o carro, foi quando deparou-se com o pneu furado, olhou aquele monte de borracha murcha e decidiu sorrir “calma, não adianta se estressar”, chamou um amigo que morava perto para ajudá-la a trocar o pneu e foi para o trabalho. Dentro do carro enquanto rodava por todas as rádios da cidade, que estavam no intervalo para propagandas, pensou como era bom acordar decidida a não deixar nada te abalar.
Chegou ao trabalho sorrindo, andando firme como quem vai dominar o mundo. Sentou-se em sua mesa e começou a organizar a papelada que a deixara tão nervosa no dia anterior e percebeu que era tudo muito simples de resolver e foi buscar um café. Levantou-se foi até a copa e enquanto enchia o copinho de café dava uma bisbilhotada no jornal do dia para ler o horóscopo “situações inesperadas podem ocorrer hoje, tenha cuidado com comportamentos rudes”, logo concluiu que estava no caminho certo. Sentou-se novamente à mesa e abaixou-se para pegar o óculos dentro da bolsa e ao levantar-se trombou no copinho com café que foi todo derramado pelo teclado, ela foi buscar um pano para limpar e quando terminou percebeu que a tecla onde ficava o “ponto final” não estava mais funcionando - “agora ficou bom” - , pensou passando a mão na testa e rindo sem graça.
Respirou fundo, deu uma checada no e-mail e começou a resolver as pendências do dia. Ao se aproximar do horário de almoço já estava cheia de planos, iria com o namorado almoçar num restaurante que eles simplesmente amavam, cinco minutos antes de sair seu telefone tocou e lhe passaram uma ligação de uma cliente que passou pelo menos 40 minutos reclamando sem sequer dar-lhe a chance de responder, ela já havia roído duas unhas quando conseguiu finalmente acalmar a mulher que estava aos berros do outro lado da linha, quando desligou o telefone percebeu que tinha menos de uma hora para almoçar e que não daria mais tempo de encontrar seu namorado, então ela mandou uma mensagem para ele lhe explicando o que aconteceu e remarcou para o próximo dia o almoço tão desejado.
Cruzou os dedos da mão e os colocou na nuca e relaxou durante cinco minutos, já havia perdido a fome e pensou que comer um salgado na cantina da empresa já resolveria seu almoço. Chegando lá, pediu um bolinho de carne que parecia mais um bolinho de óleo, aquilo já logo lhe embrulhou o estômago - “é o que tem pra hoje” - pensou consigo mesma. Terminou seu almoço com um grande copo de suco de laranja meio passado e voltou ao trabalho, pois estava atrasada.
Após o expediente pegou seu carro e foi dar uma volta pela cidade, passou na casa do namorado e assistiu um pouco de jornal, fez uma comidinha rápida para beliscarem e ficou abraçadinha com ele no sofá até achar que estava ficando tarde e que precisava ir embora, ao abrir a porta de saída do prédio ela deparou-se com uma chuva que de tão forte se comparava ao filme sobre furacão que havia visto no dia anterior, ficou pensando se ia ou se não ia para casa por uns instantes e decidiu que esperaria um pouco. Subiu novamente para o apartamento do namorado e entrou, poucos minutos depois ele já estava dormindo com a boca aberta no sofá enquanto ela olhava pela janela aquelas gotas infinitas que vinham do céu. Ela então decidiu colocar um alarme no celular para dali meia hora se ajeitou para cochilar.

Acordou se espreguiçando toda torta no sofá e quando olhou o celular faltava 5 minutos para levantar e ir trabalhar - “como isso aconteceu?” - pensou sem entender nada. De qualquer forma, deu um beijo no namorado e saiu de fininho pela porta e foi para casa se arrumar e começar tudo de novo e durante o caminho ela pensava “consegui não deixar nada estragar meu dia, e depois dizem que não sou resiliente…”, logo depois um carro não conseguiu frear e deu uma batida na traseira do seu carro, “ah, que inferno! Agora já é demais!” - pensou enquanto saía do carro dizendo para si mesma que já era outro dia.

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