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Hoje vi um post no razões para acreditar, de um casal que
ficou 60 anos casados e após a morte do marido ela disse “foram 60 anos de amor
puro”, e eu pensei “será que não é a perda que nos faz sentir assim?
Romantizando tudo?”.
Logo senti uma leve pontada de culpa, porque eu não posso simplesmente
achar que isso não aconteceria, não tenho como comparar minha vida inteira com
um casal que está junto há o dobro da minha idade.
No meio dessa quarentena as ideias parecem tão divididas e
confusas, não da para ter certeza de nada, o que me faz pensar sobre como as
coisas andam estranhas nos últimos dias.
Estamos valorizando coisas que antes não ligávamos, estamos
sentindo necessidade de conversas que nunca quisemos ou tivemos vontade de ter,
o mundo está ficando do avesso, para o lado bom na maior parte.
Aprendemos o que significa ressignificar, e estamos tentando
aprender sobre como é bom trabalhar a saúde mental em dias em que as cobranças
não param de chegar e a as nossas forças parecem não ser iguais, um cabo de
guerra injusto em que os escapes são escassos.
Não é um momento para reclamar, é um momento para refletir,
rever comportamentos e atitudes que não percebíamos pois eram automáticas, essa
guerra é injusta contra um inimigo invisível que nos torna tão vulneráveis que
somos obrigados a procurar abrigo onde já deveria o ser, que é a nossa casa.
Eu que sou caseira e gosto de ser assim me vejo querendo ir
até o quintal e olhar para o céu, me pego querendo dar uma caminhada (que não
gosto), ver amigos e sentar em um bar para falar de coisas aleatórias como era
antes, mas a verdade é que a saudade é da normalidade que vivíamos, hoje nosso
“normal” é diferente e me pego querendo descansar depois de um longo dia de
trabalho em casa.
Não sinto falta do trânsito, de usar roupas novas, de ficar
em filas, mas sinto falta da troca humana, de conversas espontâneas, de abraços
de aniversário ou não e de coisas que antes pareciam bobagem ou detalhes e
agora parecem tão relevantes a ponto de gerar vontade, será que um dia
voltaremos nisso com a mesma intensidade?
E por isso volto ao casal de 60 anos de casados do início
desse texto, e agora acredito sim que não foi a perda que a fez romantizar, a
verdade é que talvez durante muito tempo houve uma atenção maior a este “detalhes”
que a fizeram viver um relacionamento de amor puro que na realidade é como
estamos vivendo agora.
Espero que as amizades verdadeiras fiquem, que os contatos
humanos que são remotos hoje continuem a prosperar quando este novo mundo lá
fora nos aceitar de volta.
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