Ah, essa vida de adulto...


    Preciso confessar, há uma certa graça nessa vida de adulto, é uma mistura de dar risada sozinha com vontade de sair gritando por aí para não enlouquecer. É engraçado ressaltar que as alegrias vão perdendo o tamanho, como por exemplo, saber que sobrou um pouco do vale para comprar a janta num domingo de preguiça, ou de finalmente poder tomar banho sem que o ralo volte a água, depois de semanas passando por isso, mas a moça da loja disse que o produto é ótimo, com sorte nem destrói o encanamento, mas pelo menos a água desce que é uma beleza, funcionou e está tudo certo.
    Ser adulta e morar sozinha é ainda mais vitalizante, do nada você se pega procurando coisa para fazer e quando percebe está numa loja de departamento, na sessão de tinta e acaba levando para casa uma tralha toda para encostar a lata de tinta mais umas semanas até criar coragem para finalmente pintar o muro do quintal. É claro que a gente dá conta de pintar sozinha, nada que 5 horas penando e com tinta até no seu gato não resolva esse pequeno problema, penso - “ficou ótimo” - enquanto me lembro que precisa de pelo menos mais duas demãos - “quem teve essa maravilhosa ideia mesmo?” - penso enquanto apoio as mãos na lombar igual uma velha.
    Outra alegria é chegar em casa depois de um dia cansativo de trabalho e deitar no sofá, e do nada acordar, na maior cara de pau e pensar -  “Nossa, já é meia noite, preciso ir pra cama” - e continuar no melhor sono da vida.
    Existem tantas pequenas alegrias no dia a dia, e as vezes a gente nem nota, todas elas são proporcionais a solidão que bate de vez em quando, e daí para passar por isso só uma pipoca e filme para resolver, joga aquela nutella junto que está tudo certo -“pipoca gourmet”- pois hoje em dia a própria solidão é “gourmetizada” também. Esses dias achei que era pouca pipoca, quando vi a tampa da panela estava subindo, e paciência, foi pipoca até pro gato, coitadinho, ao invés de comer ele ficou brincando de pega-pega com ela.
    Não tem dia ruim que ultrapasse a felicidade de poder fazer a escolha que quiser, mesmo quando tudo parece estar desabando, sempre tem um livro, um filme, um amigo para jogar conversa fora. Até mesmo colocar água nas plantas e quase infartar quando seu gato fica provocando o cachorro do vizinho deixa o dia mais leve e fácil, e são nessas horas que os risos surgem, mesmo que tímidos eles aparecem, ver que nasceu uma florzinha de um vaso que você quase descartou, não tem preço.
    As pequenas vitórias diárias, como de saber que sobreviveu a mais um dia que poderia ser tomado pelo estresse, e poder caminhar, andar de bike, olhar o céu e ver que mesmo a lua na posição mais distante da terra continua enorme e linda. De poder escolher parar no posto e tomar um capuccino com misto quente e fazer isso sua janta oficial das segundas-feiras, é vida.
    E nem adianta achar que você é mais especial por passar por tudo isso, tem um monte de gente no mesmo barco e cada um na sua vivendo as pequenas felicidades, e se começar a conversar com eles todo mundo chora junto, mas a rotina sem rotina continua sendo a parte mais excitante da vida e é necessário saber apreciá-la em cada momento e perceber que mesmo sozinha, você está no mesmo barco que todo mundo, então, não sofre não, sorria, tudo só vai melhorar, você só precisa resistir, acreditar e não desistir jamais.

Comentários

José Roberto Eiras Henriques disse…
Que post magnífico,real e divertido.