Tô com sintomas de saudade.





Todo dia é um bom dia para pensar. Pensar no que deve ser feito para a próxima semana, mês e ano e apesar de ser propício olhar para frente, minha mente insiste em olhar para trás. Lembro de coisas passadas, das pessoas que não vejo mais e que foram tão importantes. Das conversas, dos conselhos em volta da mesa durante o almoço, das risadas e filmes com sorvete divididos aos sábados. Dos amigos, e quantos amigos já passaram por mim, desde aqueles que brincavam de pega-pega no intervalo da escola, que pulavam muro dos vizinhos e gritavam “pé na lata”, das verdades e desafios, de subir em árvores da praça e fazer do coreto um palco, jogar tubos de cola para cima, andar de bicicleta sem as mãos pela primeira vez e o famoso tombo de patins.
Saudades, também, de quando os problemas eram de matemática e não da vida. De reclamar do filme que iria passar na sessão da tarde, do leite que queimou a língua, da nota baixa na escola. Do primeiro amor, primeira decepção, primeira fossa. Das músicas da época, que hoje são bregas, mas que não consigo parar de ouvir se eu simplesmente começar a ouvi-las. Saudades das conversas entre mim e as estrelas, numa época em que meu coração foi inaugurado e torturado pela primeira vez, e o exagero faz parte da época, sinto falta do exagero também, querendo ou não imaginar que tudo é para sempre é bem charmoso e hoje em dia falta um pouco de esperança mesmo.
E os melhores amigos, que caminhavam abraçados cantando a música preferida, que se divertiam sentados na calçada com apenas um violão e muitos sorrisos. Das vozes, das piadas internas, das gargalhadas, das lágrimas compartilhadas e sonhos bobos. Sinto saudade das primeiras vezes, os primeiros beijos, as primeiras saudades, os primeiros “te amos”, as primeiras brigas e reconciliações. Sinto falta do pra sempre que acabou, das palavras que não disse, dos abraços que não dei, dos amigos que eu não respondi a carta, não mandei o e-mail ou perdi o telefone.
Saudade não tem tradução porque saudade não deveria existir, tudo que a gente gosta deveria estar com a gente o tempo todo, as pessoas e momentos tem essa mania boba de deixarem lembranças boas e nos deixar também com a maior vontade de voltar no tempo. Mas isso não é possível, não se volta, apenas se caminha um passo à frente do outro e a cada segundo que passa você está correndo o risco de sentir falta dele também, porque tudo que é bom dura pouco, mas o que é essencial dura para sempre. Hoje, especialmente hoje, foco no futuro porque hoje a saudade dói, mas amanhã pode ser que eu lembre disso sorrindo, e então vou querer voltar no tempo de novo, e de novo. E acredite, estarei sorrindo com cara de boba.

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