Um dia como outro qualquer


Ao atravessar a rua pisou em um buraco e caiu estatelado ao chão, olhou para os lados e todos estavam rindo da piada de mau gosto, somente uma mulher, pelo olhar não aparentava a idade que tinha, que sorrindo para ele estendeu a mão e perguntou se ele estava bem, batendo as mãos na roupa para tirar a sujeira ele se levantou depressa quase com um único salto e sorriu sem graça de volta para a mulher que tinha lábios vermelhos e cabelos loiros acima do ombro. Chateou-se de chegar amassado e desajustado ao trabalho, mas ergueu a cabeça e encarou novamente a última rua que faltava para chegar ao seu local de trabalho. Sentou-se a mesa como quem senta no sofá após o expediente e quase se esquecendo de suas anotações para a próxima reunião, respirou fundo e pensou consigo mesmo que o que ocorreu não é um mau sinal. Gaguejou, suou, tremeu as pernas, mas ao final seu projeto foi aceito e um peso lhe saiu das costas, voltou para a mesa sentindo-se mais tranquilo e com um sorriso discreto na face. Trabalhou em novos projetos e até conseguiu finalizar algumas projetos antecipadamente.
Foi embora caminhando, desviando dos carros, das bicicletas e sorrindo para o vento que lhe acariciava o rosto como um beijo de bom dia. Quando chegou em casa seu cachorro já veio lhe dar as boas vindas colocando as patinhas em suas pernas terminando de sujar o que o tombo começou, sorriu, e foi brincar com seu cachorro como uma criança que acaba de ganhar um filhotinho. Ele o cachorro ficaram exaustos.
Levantou-se e viu que em cima da cômoda havia um bilhete da diarista lhe informando que não prestará mais serviços a ele, porque o cachorro “é o capeta” nas palavras dela, olhou para o lado fuzilando o pobre cachorro que devolveu um olhar de desprezo por estar cansado. Ele simplesmente parou para pensar que poderia ser pior, mas quando encontrou a pilha de roupa para passar, incluindo camisas e calças sociais, pensou em comprar roupas novas imediatamente, é um absurdo ela ter ido embora sem ter terminado de fazer o serviço, ele pensa. Deu de ombros e foi tomar banho, deixou toda a água quente escorrer pelo seu corpo levando embora todas as inseguranças, dúvidas e medos que o dia lhe proporcionou, afinal foi um dia bom. A campainha toca, é, ele se esqueceu de que ela viria hoje. Saiu correndo pelo piso molhado, escorregou, torceu o pé, bateu o cotovelo na quina da porta e abriu a porta da frente com o maior sorriso na cara.
- Oi, amor! – ele diz entusiasmado.
- Oi, amor? – responde a moça que está entrando brava pela porta – Você não tem noção, meu dia foi uma porcaria...
Abraça a mulher e a ouve contar sobre seu dia, seus problemas e quando vai começar a contar sobre si mesmo, ela liga a tv e pergunta se ele quer pipoca. Ok, ele se arruma no sofá e cinco minutos depois já está pensando no banho que não terminou, no joelho que ralou na rua e por mais um dia bom de trabalho, mas uma coisa em especial ficou em sua memória, o sorriso daquela mulher gentil que lhe estendeu a mão mais cedo “será que ela estará por lá amanhã?” e dormiu sorrindo.

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