Com o coração na mão disse um
rápido adeus e desligou o telefone como quem deseja nunca ter atendido aquela
ligação. Sabia que daqui para frente nada seria igual e com isso se sentia leve
e um pouco angustiada porque há tanto tempo seguiu o mesmo caminho e agora tudo
mudou. Arrumou as malas e foi embora tão depressa que se esqueceu de deixar a
comida para o peixe. Estava insegura quanto a entrar no trem porque sabia que
ia ser para sempre, respirou fundo, olhou para os lados, para o relógio e
percebeu o burburinho irritado das pessoas na fila e como que por impulso
entrou, encontrou sua poltrona, deixou seu peso cair sobre ela e agindo como
alguém que já está arrependido encostou a cabeça no vidro e olhou para o lugar
que há tanto tempo vivera e agora virou cinzas de um passado amargurado. A dor
em seu peito aumenta e as lágrimas não podem mais ser contidas e entre soluços
de desespero admite a besteira que está fazendo e quase não consegue mais
respirar. A viagem é longa, tempo suficiente para por a cabeça no lugar e ao
lembrar-se da voz ao telefone lhe dizendo pra ficar, ela entende que era o que
realmente queria e escolheu, e não pensou mais em voltar nem em enlouquecer, a
leveza e a sanidade voltam para seu corpo num abraço quente que a envolve com ternura.
Era pra ser assim, não poderia ser diferente, hoje ela parte para longe porque
sabe onde se encontrar, porque quando realmente se conhece a si mesmo e sabe
como será sua reação diante de alguns acontecimentos, fica mais fácil descobrir
onde realmente se quer estar. Ao sair do ônibus, ela não sabia nem por onde
começar cruzou os braços encostou-se à bagagem e por alguns instantes fechou os
olhos para deixar que a brisa suave tocasse seu rosto sem que isso parecesse algo
ruim, ao reabrir os olhos parecia que estava em um novo mundo, diferente e
distante de todo o passado que resolveu enterrar. Sabe, no entanto, que o fim
está longe e que será uma longa caminhada até o momento ideal em que se sentirá
bem consigo mesma, e conseguirá seguir o próprio caminho sem pensar em mais
nada, somente no desejo dela de ser feliz e buscar a felicidade naqueles sonhos
que antes não podia realizar, entendia o fato de que se sentir culpada não
valia a pena, porque o que vale a pena é o que ela sente e não o que os outros
falam ou opinam sem serem questionados. A verdade, é que ela se sente completa e
renovada agora, sente como se tivesse o mundo nas mãos em um jogo de tabuleiro
em que pode arremessar um dado e escolher o próximo caminho. Ela não tem mais
chão, não tem mais amarras, ela só tem sonhos e com eles acabou ganhando asas e
a única coisa que importa é voar e voar e encontrar a felicidade a cada passo
onde estiver, porque só assim a felicidade é sincera e real estando feliz
consigo mesma.
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