Depois da conversa ela pediu um
momento para respirar e tentar não chorar. Esforçou-se para não permitir que
seus sentimentos viessem a tona e lhe fizessem rasgar o resto de sua alma que
agora pesava mais que o mundo. Sentiu-se tão perdida que por um momento não
percebeu que estava embaixo da mesma árvore de sempre, olhando para as mesmas
flores de sempre, agora tudo parecia-lhe diferente.
Jogou longe o celular e quis
vomitar todas as palavras não ditas e tirar de seu peito todas as lágrimas que
ainda não caíram de seus olhos. Deitou na grama macia e lembrou da época em que
a mesma grama lhe fazia cócegas e sorriu levemente como se conseguisse sentir
novamente o toque delicado e divertido das folhas.
Nada mais parecia como antes,
como se alguém tivesse invertido o mundo e alterado a perspectiva de tudo que
estava acontecendo. Alguém tirou seu chão, seu meio e sabe-se lá o que fizeram
com o fim. Tudo que ela queria mesmo é que o dia acabasse, e nunca mais lembrar
dos sentimentos que presenciou neste espaço curto de tempo em que esteve presa
por uma bolha invisível de mil sensações que faziam seu dia parecer mais
bonito, mais intenso e mais insano.
Nada mudou. Tudo mudou. E o dia
amanheceu mais uma vez e ela se olhou no espelho e jurou para si que o mundo
giraria normalmente e seu coração não iria mais sair pela boca e que seus olhos
nunca mais derramariam suas frustrações. A vida continua, o jornal ainda está
passando na TV, pessoas continuam matando e morrendo, bem como nascendo e
crescendo. Nada mudou, mas Tudo mudou.
As flores que balançavam,
dançavam ao ritmo do vento, perfumavam todo o resto de seus sonhos e a faziam
crer que a vida ainda fazia sentido, e que o universo ainda conspirava a seu
favor. As estrelas que estarão no céu essa noite, ela pensa que vão brilhar só
para provar que o mundo não mudou, mas na verdade querem dizer que elas sempre
estarão lá mesmo que nada mude, mesmo que tudo mude.
Comentários