Ela chegou em casa, depois de
correr feito louca da chuva, que parecia um dilúvio digno de filme, jogou a bolsa
no sofá e foi tirando a roupa molhada e jogando pelo chão. Entrou no quarto e
se jogou na cama de cabeça no travesseiro, colocou as mãos na cabeça e começou
a pensar sobre o dia, decidiu parar antes que arrancasse os poucos cabelos que
ainda restavam em seu couro cabeludo. Ficou deitada, enquanto esticava os pés e
tentava ajeitar a coluna, decidiu que o chão era melhor para isso, deitou no
chão de barriga pra cima, colocou a mão na testa e fechou os olhos, deu um
suspiro longo e finalmente conseguiu relaxar. Seus pés estavam adormecidos de
ficarem dentro daquele sapato desconfortável, apertavam tanto seus dedos que
nem lembrava por que os comprara. Quando finalmente tomou coragem para levantar
e tomar banho, ouviu seu celular vibrar lá na sala e com um salto de acrobata
destreinada foi correndo buscar e descobrir o que tinha para a noite, quando
viu que era mais uma mensagem promocional da operadora telefônica sentiu-se tão
frustrada que não se moveu ainda por alguns segundos. Quando despertou da
frustração olhou no relógio e pensou que poderia ser mais tarde para já estar
com sono e simplesmente dormir, ao contrário disso, eram apenas 7 horas da
noite e ainda havia muito para pegar no sono que só chegava durante a
madrugada. Resolveu seguir os planos e tomar um banho longo e morno, lavar seus
cabelos e lembrou-se do creme novo que comprou e foi logo experimentar, enquanto
o creme agia nos cabelos, já pegou uma pinça e ajeitou as sobrancelhas. Saiu do
banho sentindo-se nova em folha, olhou para a bagunça de roupas molhadas pelo
chão, colocou sua banda favorita para tocar e foi dançar enquanto arrumava a
bagunça da casa, aos poucos se via cantando e dando piruetas como nos tempos de
ballet. Terminou com a bagunça, tirou o roupão e resolveu andar como veio ao
mundo pela casa, há tempos não fazia isso, lembrou-se de conferir as cortinas e
foi se aventurar pelos corredores sentindo o vento como realmente se sente a
vontade. Escolheu um filme na estante, sentou no sofá com suas pantufas de
ursinho e tentou não pensar tanto sobre a pessoa que deu de presente aquelas
lindas orelhinhas rosas que aqueciam seus pés, pensou em fazer brigadeiro e se
preocupou com os quilos a mais adquiridos após o feriado e decidiu comer uma
saladinha de frutas para não dar peso na consciência. Não esperou o final do
filme e caiu no sono, acordou às 3h da manhã desnorteada e foi se arrastando
para a cama. De manhã, quando o celular apitou informando que deveria acordar e
ir trabalhar, viu um envelopinho branco brilhando na tela, tratou de limpar as
remelas e afirmar a visão, eram duas mensagens dele. “Oi, sinto sua falta” e a
outra “Eu sei que não quer falar comigo, mas saiba que você é muito importante
pra mim”. Ela esperou tanto pelas mensagens que resolveu ignorá-las por um
tempo, afinal na noite passada teve companhia melhor, ela mesma.
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