E do silêncio surgiu a verdade,
das entranhas do medo e do receio restou apenas aquilo que se dito, se tornaria
real. E nesta bagunça de pensamentos restou uma dúvida respondida desde o
primeiro olhar, a certeza de que não tem como nem porque fugir. As palavras são
expressadas com tamanha facilidade que a naturalidade do momento não deixa
mentir, será que vale a pena fingir? Olhar no fundo dos olhos como se a alma
estivesse com a porta aberta convidando-o para entrar, neste momento é mais
curiosidade que verdade e, mesmo assim, o calor não deixa passar a vontade de
entrar e de se arriscar a jogar tudo pro alto como se fosse simples desfazer
laços e contar os pedaços do que estará quebrado a seguir. Abrir as asas e voar
é o que o corpo mais pede, é a saudade abandonada no fundo do poço de quem
ainda não descobriu se realmente consegue subir tão alto e encontrar as
estrelas sem medo de dizer que tudo sempre vale a pena. E talvez sejam
devaneios toscos de quem ainda só sabe sonhar, e sonha de olhos abertos
esperando continuar dessa maneira até que não seja tarde demais enfim para
perceber que o futuro está aqui e não lá onde imaginava-se tão certo e
protetor. E nesta quimera entorpecente que os dias tornaram-se, parecem ser
menores e maiores ao mesmo tempo, as fatias ficam cortadas e organizadas em
cima da mesa apenas esperando o próximo a pegá-las e saboreá-las com uma geleia
sabor de seja lá o que for que deixa o dia mais bonito. Saber onde chegar e
porque voar delimitam o céu e o infinito passa a não existir, torna-se apenas
uma palavra a mais no dicionário esperando ser traduzida pela língua de quem
sabe o poder que ela exige. A única certeza que insiste em sempre aparecer é que
caminhar de mãos dadas é melhor que voar sozinho, mas enquanto não achar um
lugar certo e fresco para o pouso não vale a pena se culpar e punir por algo
que ainda não encontrou dentro de si.
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