Lisa

“A verdade é mais fácil do que parece, o que é difícil mesmo é aceitá-la”, pensava Lisa enquanto passava pela mesma porta de madeira da loja que nunca se interessou em saber o que era vendido por lá, mas sempre foi muito educada com o casal de velhos que lá estava todos os dias. Achava que eles faziam questão de estar ali só para terem o gosto de dizer “Tenha um ótimo dia, jovem”, como se fosse realmente importante para eles o dia que ela teria. Se quiserem saber nem para ela importava como seria seu dia, até porque sempre era a mesma coisa chata, ir para faculdade se encontrar com seu único amigo que agüenta o humor de fases que ela tem. Ele é um ano mais velho, tem olhos pretos cor de treva e mesmo assim ela se apaixona toda vez que o vê, e tira essa idéia da cabeça quando lembra que ele é gay. Depois de conhecê-lo foi bem difícil acreditar que ainda sobrou algum homem para ela nesse mundo, uma vez que a vida amorosa de seu amigo é muito mais excitante que sua rotina chata de faculdade/casa/cama. No fundo ela ainda espera que esteja sonhando e sua vida será totalmente diferente quando acordar, mas então ela dorme e descobre que não pode sonhar que está dormindo porque seria uma grande perda de tempo “quem sabe uma marca na minha testa me torne vampira ou um cara novo se mude para a casa ao lado...”. Pobre Lisa, sempre procurando sem achar, seus olhos são foscos e seu sorriso tem hora marcada para se mostrar - quando acorda, quando encontra Theo e quando pensa que está sonhando, no mais, sua face é fria e quase rude, do tipo que não faz questão de esconder que sua vida não faz sentido, mas não desiste por teimosia. “Não é possível que nada de bom vá acontecer, não é verdade?”, insiste para si mesma todos os dias mesmo sabendo que sim, é possível.

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